Há dias atrás, chorando as mágoas e as desilusões com a
política, uma amiga propôs a formação de um grupo de estudos que nos ajudasse a
compreender o processo e o comportamento das pessoas nele inseridos.
Mencionou atabalhoadamente alguns temas, dentre eles as
teorias anarquistas. Meus olhos piscaram negros como a bandeira do movimento.
Passou o tempo e não se falou mais nisso.
Hoje pela manhã, meu olhar pousou num dos livros adormecidos
na escada. Sim, meus livros não estão organizados em estantes de acordo com o
tamanho ou cor da capa, tampouco por tema. Poesia mistura-se com física e
sociologia, romances com filosofia e a cura pelas plantas, todos
(in)devidamente distribuídos em mesas de centro, mesa de cabeceira, banheiro.
Qualquer lugar em que se possa vê-los e quiçá folheá-los.
Foi assim que me deparei com o exemplar de Deus e o Estado,
do explosivo Mikhail Bakunin. (Seria serendiptia, Sandroekel?)
Pois se é pra começar, então façamos pela base, certo?
A nossa inquietação provinha, por linhas tortas, da raiz de
todas as dores: o poder. Quem mais apropriado do que Bakunin para orientar
nossa busca? Ele que entra em cheio no problema da legitimidade do poder.
Já na introdução do livro, Maurício Tragtenberg apresenta a
questão basilar para compreensão do tema que são os estudos aprofundados feitos
por Max Weber sobre “as formas da legitimidade do poder estatal através do
tempo”.
Só isso já seria assunto para vários encontros do grupo.
Logo de cara colocaríamos o dedo numa delicada ferida: religião. Com uma ou
duas exceções, o grupo é composto por pessoas que professam religiões de base
cristã.
Será que superaremos essa barreira? Discutir poder
tangenciando as formas de dominação fundadas quer no Direito Divino (Séculos
XVI e XVII) ou na legitimidade burocrático-legal, mas cujos desdobramentos nas
constituições modernas não prescindem da legitimidade tradicional?
Lembremos a discussão no Congresso Constituinte, no final da
década de 1980, no Brasil a respeito da promulgação da Constituição “em nome de
Deus”. Estado laico, hem?
Tragtenberg menciona que as relações entre Igreja e Estado
“apresentam aspectos diversos conforme a constelação histórica em que aparecem.”.
Enfim, seja qual for a constelação histórica, Bakunin vê a
ação da Igreja e do Estado como a “fundação do materialismo próspero do pequeno
número sobre o idealismo fanático
e constantemente faminto das massas.”.
Bom, isso é só o começo. Será que aceitaremos o desafio?
“É o privilégio que corrompe, os privilégios econômicos e políticos
depravam o espírito e o coração.” Mikhail Bakunin
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