A ema e Emma

Na canção de Jackson do Pandeiro, a ema geme pra avisar. Avisos nem sempre são alvissareiros. No entanto, é bom estar alerta. Atentos para os movimentos que tentam cercear a liberdade.

“A liberdade é a maior ameaça que pode pesar sobre a autoridade”, afirma Emma Goldman. Isso acontece porque as pessoas são forjadas dentro de uma tradição familiar e de uma rotina que não exigem nem grandes esforços tampouco personalidade. Isso transposto para o mundo da política ocorre com mais força, conforme essa pensadora. Nos círculos políticos não é criado nenhum espaço para a livre escolha, para o pensamento ou para a atividade independentes. “Só encontramos marionetes boas apenas para votar e pagar os impostos.”

“As perseguições contra o inovador, o dissidente, o contestador, sempre foram causadas pelo temor que a infalibilidade da autoridade constituída seja questionada e seu poder solapado.”

Bom, está avisado: este é um blog com escritos libertários.

Quando alguma ameaça pairar sobre nossas cabeças, a ema vai gemer.

domingo, 2 de dezembro de 2012

deus, o estado e nós


Há dias atrás, chorando as mágoas e as desilusões com a política, uma amiga propôs a formação de um grupo de estudos que nos ajudasse a compreender o processo e o comportamento das pessoas nele inseridos.
Mencionou atabalhoadamente alguns temas, dentre eles as teorias anarquistas. Meus olhos piscaram negros como a bandeira do movimento.
Passou o tempo e não se falou mais nisso.
Hoje pela manhã, meu olhar pousou num dos livros adormecidos na escada. Sim, meus livros não estão organizados em estantes de acordo com o tamanho ou cor da capa, tampouco por tema. Poesia mistura-se com física e sociologia, romances com filosofia e a cura pelas plantas, todos (in)devidamente distribuídos em mesas de centro, mesa de cabeceira, banheiro. Qualquer lugar em que se possa vê-los e quiçá folheá-los.
Foi assim que me deparei com o exemplar de Deus e o Estado, do explosivo Mikhail Bakunin. (Seria serendiptia, Sandroekel?)
Pois se é pra começar, então façamos pela base, certo?
A nossa inquietação provinha, por linhas tortas, da raiz de todas as dores: o poder. Quem mais apropriado do que Bakunin para orientar nossa busca? Ele que entra em cheio no problema da legitimidade do poder.
Já na introdução do livro, Maurício Tragtenberg apresenta a questão basilar para compreensão do tema que são os estudos aprofundados feitos por Max Weber sobre “as formas da legitimidade do poder estatal através do tempo”.
Só isso já seria assunto para vários encontros do grupo. Logo de cara colocaríamos o dedo numa delicada ferida: religião. Com uma ou duas exceções, o grupo é composto por pessoas que professam religiões de base cristã.
Será que superaremos essa barreira? Discutir poder tangenciando as formas de dominação fundadas quer no Direito Divino (Séculos XVI e XVII) ou na legitimidade burocrático-legal, mas cujos desdobramentos nas constituições modernas não prescindem da legitimidade tradicional?
Lembremos a discussão no Congresso Constituinte, no final da década de 1980, no Brasil a respeito da promulgação da Constituição “em nome de Deus”. Estado laico, hem?
Tragtenberg menciona que as relações entre Igreja e Estado “apresentam aspectos diversos conforme a constelação histórica em que aparecem.”.
Enfim, seja qual for a constelação histórica, Bakunin vê a ação da Igreja e do Estado como a “fundação do materialismo próspero do pequeno número sobre o idealismo fanático[1] e constantemente faminto das massas.”.
Bom, isso é só o começo. Será que aceitaremos o desafio?

“É o privilégio que corrompe, os privilégios econômicos e políticos depravam o espírito e o coração.” Mikhail Bakunin



[1] Grifo meu

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