A ema e Emma

Na canção de Jackson do Pandeiro, a ema geme pra avisar. Avisos nem sempre são alvissareiros. No entanto, é bom estar alerta. Atentos para os movimentos que tentam cercear a liberdade.

“A liberdade é a maior ameaça que pode pesar sobre a autoridade”, afirma Emma Goldman. Isso acontece porque as pessoas são forjadas dentro de uma tradição familiar e de uma rotina que não exigem nem grandes esforços tampouco personalidade. Isso transposto para o mundo da política ocorre com mais força, conforme essa pensadora. Nos círculos políticos não é criado nenhum espaço para a livre escolha, para o pensamento ou para a atividade independentes. “Só encontramos marionetes boas apenas para votar e pagar os impostos.”

“As perseguições contra o inovador, o dissidente, o contestador, sempre foram causadas pelo temor que a infalibilidade da autoridade constituída seja questionada e seu poder solapado.”

Bom, está avisado: este é um blog com escritos libertários.

Quando alguma ameaça pairar sobre nossas cabeças, a ema vai gemer.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

estrelas, corações e endireitamento esquerdista


As políticas sociais implantadas durante o governo Lula, ao elevar economicamente um grande contingente de pobres, criaram a ilusão do fim da luta de classes. Inserir no mercado de consumo as classes menos favorecidas sem que, paralelamente, fosse trabalhado e elevado o nível de politização e consciência de classe, fez com que essas se identificassem com a classe média dominante e suas idéias conservadoras. Os resultados dessas eleições são uma demonstração desse processo, mas também contaram com o “auxílio luxuoso” de líderes e governantes petistas que se assenhorearam dos cargos e rasgaram o estatuto do partido.

Isso me lembra um artigo de Frei Betto escrito em 2007 intitulado “Como endireitar um esquerdista”. Primeiro, ele conceituava esquerda, direita e esquerdismo. Esquerda, classificação surgida na Revolução Francesa, significando optar pelos pobres, indignar-se frente à exclusão social, inconformar-se com toda forma de injustiça ou, citando Noberto Bobbio, “considerar aberração a desigualdade social”.

“Ser de direita é tolerar injustiças, considerar os imperativos do mercado acima dos direitos humanos, encarar a pobreza como nódoa incurável, julgar que existem pessoas e povos intrinsecamente superiores a outros”, lembrava ele.

Já o esquerdismo é uma patologia diagnosticada por Lênin como “doença infantil do comunismo”. Ou seja, é ficar contra o poder burguês até fazer parte dele. “O esquerdista é um fundamentalista em causa própria. Enche a boca de dogmas e venera um líder.”

Conseguiram identificar alguns?


Para o esquerdista, povo é aquele substantivo abstrato que só lhe parece concreto na hora de cabalar votos, diz Frei Betto. Por isso, o esquerdista se aproxima dos pobres, não para tentar mudar a situação deles, e sim com o único intuito de angariar votos para si e/ou sua corriola. Passadas as eleições, adeus trouxas, e até o próximo pleito. Ele foi eleito ou conseguiu um emprego ou um bom cargo público, enfim, aboletou-se na cadeira.

E agora vem a parte do artigo que cutucou a ferida com o dedo. "Se um companheiro dos velhos tempos o procura, ele despista, desconversa, delega o caso à secretária, e a boca pequena se queixa do “chato”. Agora todos os seus passos são movidos, com precisão cirúrgica, rumo à escalada do poder. Adora conviver com gente importante, empresários, ricaços, latifundiários. Delicia-se com seus agrados e presentes. Sua maior desgraça seria voltar ao que era, desprovido de afagos e salamaleques, cidadão comum em luta pela sobrevivência.

Os ideais, as utopias e os sonhos são jogados na vala do esquecimento. O pragmatismo, a política de resultados, a cooptação e otras cositas mas passam a fazer parte da nova cartilha do esquerdista.

Desse modo, qual a diferença que o povo vai perceber?

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