As políticas sociais implantadas
durante o governo Lula, ao elevar economicamente um grande contingente de
pobres, criaram a ilusão do fim da luta de classes. Inserir no mercado de
consumo as classes menos favorecidas sem que, paralelamente, fosse trabalhado e
elevado o nível de politização e consciência de classe, fez com que essas se
identificassem com a classe média dominante e suas idéias conservadoras. Os
resultados dessas eleições são uma demonstração desse processo, mas também contaram
com o “auxílio luxuoso” de líderes e governantes petistas que se assenhorearam dos
cargos e rasgaram o estatuto do partido.
Isso me lembra um artigo de Frei
Betto escrito em 2007 intitulado “Como endireitar um esquerdista”. Primeiro,
ele conceituava esquerda, direita e esquerdismo. Esquerda, classificação surgida na Revolução Francesa, significando
optar pelos pobres, indignar-se frente à exclusão social, inconformar-se com
toda forma de injustiça ou, citando Noberto Bobbio, “considerar aberração a
desigualdade social”.
“Ser de direita é tolerar injustiças, considerar os imperativos do mercado
acima dos direitos humanos, encarar a pobreza como nódoa incurável, julgar que
existem pessoas e povos intrinsecamente superiores a outros”, lembrava ele.
Já o esquerdismo é uma patologia diagnosticada por Lênin como “doença
infantil do comunismo”. Ou seja, é ficar contra o poder burguês até fazer parte
dele. “O esquerdista é um fundamentalista em causa própria. Enche a boca de
dogmas e venera um líder.”
Conseguiram identificar alguns?
Para o esquerdista, povo é aquele
substantivo abstrato que só lhe parece concreto na hora de cabalar votos, diz
Frei Betto. Por isso, o esquerdista se aproxima dos pobres, não para tentar
mudar a situação deles, e sim com o único intuito de angariar votos para si
e/ou sua corriola. Passadas as eleições, adeus trouxas, e até o próximo pleito.
Ele foi eleito ou conseguiu um emprego ou um bom cargo público, enfim,
aboletou-se na cadeira.
E agora vem a parte do artigo que
cutucou a ferida com o dedo. "Se um companheiro dos velhos tempos o
procura, ele despista, desconversa, delega o caso à secretária, e a boca
pequena se queixa do “chato”. Agora todos os seus passos são movidos, com
precisão cirúrgica, rumo à escalada do poder. Adora conviver com gente
importante, empresários, ricaços, latifundiários. Delicia-se com seus agrados e
presentes. Sua maior desgraça seria voltar ao que era, desprovido de afagos e
salamaleques, cidadão comum em luta pela sobrevivência.”
Os ideais, as utopias e os sonhos
são jogados na vala do esquecimento. O pragmatismo, a política de resultados, a
cooptação e otras cositas mas passam
a fazer parte da nova cartilha do esquerdista.
Desse modo, qual a diferença que
o povo vai perceber?
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