A ema e Emma

Na canção de Jackson do Pandeiro, a ema geme pra avisar. Avisos nem sempre são alvissareiros. No entanto, é bom estar alerta. Atentos para os movimentos que tentam cercear a liberdade.

“A liberdade é a maior ameaça que pode pesar sobre a autoridade”, afirma Emma Goldman. Isso acontece porque as pessoas são forjadas dentro de uma tradição familiar e de uma rotina que não exigem nem grandes esforços tampouco personalidade. Isso transposto para o mundo da política ocorre com mais força, conforme essa pensadora. Nos círculos políticos não é criado nenhum espaço para a livre escolha, para o pensamento ou para a atividade independentes. “Só encontramos marionetes boas apenas para votar e pagar os impostos.”

“As perseguições contra o inovador, o dissidente, o contestador, sempre foram causadas pelo temor que a infalibilidade da autoridade constituída seja questionada e seu poder solapado.”

Bom, está avisado: este é um blog com escritos libertários.

Quando alguma ameaça pairar sobre nossas cabeças, a ema vai gemer.

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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Almas em cruz

Cruz das Almas, cidade de alma e labor femininos. Forjada labuta das charuteiras – hoje, operárias do fumo. Cidade mulher cujas ruas emprenham ao toque das sirenes das fábricas e cujo ar se impregna do cheiro acre do fumo à passagem dos anjos da indústria tabacaleira. Agora, outros espaços também se enchem de jovens trabalhadoras, são as fábricas de calçados, são os balcões das lojas de roupas e das de jogo do bicho, são os caixas de supermercados. Cidade fêmea cuja feminilidade invade as ruas mas não ocupa os espaços de poder. Muitos anos se passaram até que a ruptura dessa lógica começasse a trincar as paredes do parlamento, das repartições públicas e dos partidos políticos. Empunhando seus instrumentos de trabalho – caneta, enxada, agulha, linha, mãos e o saber – essas mulheres cruzalmenses são os novos sujeitos sociais a ocupar os espaços até então, para elas, quase interditos. Para isso, se organizaram, resgataram as bandeiras de antigas lutadoras como Jacinta Passos e começam a construir uma nova história, com nomes e identidades plurais; esculpem com mãos firmes e retórica afiada a nova alma da cidade, apesar de todas as cruzes. 

Texto originalmente publicado em Junho 2006