A ema e Emma

Na canção de Jackson do Pandeiro, a ema geme pra avisar. Avisos nem sempre são alvissareiros. No entanto, é bom estar alerta. Atentos para os movimentos que tentam cercear a liberdade.

“A liberdade é a maior ameaça que pode pesar sobre a autoridade”, afirma Emma Goldman. Isso acontece porque as pessoas são forjadas dentro de uma tradição familiar e de uma rotina que não exigem nem grandes esforços tampouco personalidade. Isso transposto para o mundo da política ocorre com mais força, conforme essa pensadora. Nos círculos políticos não é criado nenhum espaço para a livre escolha, para o pensamento ou para a atividade independentes. “Só encontramos marionetes boas apenas para votar e pagar os impostos.”

“As perseguições contra o inovador, o dissidente, o contestador, sempre foram causadas pelo temor que a infalibilidade da autoridade constituída seja questionada e seu poder solapado.”

Bom, está avisado: este é um blog com escritos libertários.

Quando alguma ameaça pairar sobre nossas cabeças, a ema vai gemer.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Penso mas não existo

Prédio abandonado no centro de Lisboa

A frase acima nos remete à reflexão feita na última postagem desse blog quando me referi à ausência de conteúdo que permeia os programas televisivos e que predomina nas campanhas políticas. Também mencionei a indiferença do povo quanto à essência das coisas e seu apego à aparência.

Bem, essa indiferença não é nova. Na história recente tivemos apenas alguns parênteses em que o povo foi sacudido nos momentos de crise e de exceção. Se olharmos a produção cultural da década de 1960 veremos isso. No Brasil, esse foi o período da censura, da perseguição, tortura e morte. Foi também o período de clássicos da música a exemplo de Chico Buarque, Milton Nascimento e tantos outros. Mais de quarenta anos se passaram, vivemos numa democracia e, parece que não temos mais porque lutar (nem temas para compor). Temos tudo, não é? Podemos ouvir música pornô tocando nas rádios, podemos assistir espancamentos ao vivo na TV...
O que mais queremos? Qualquer semelhança entre nós e o poema de T.S. Elliot, escrito no século XIX, é mera coincidência.

OS HOMENS OCOS

"A penny for the Old Guy"
(Um pêni para o Velho Guy)

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Forma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.


T. S. Eliot
Trad. Ivan Junqueira

Nenhum comentário:

Postar um comentário