Ser mulher num mundo estruturado sob a lógica masculina se apresenta como o desafio fundador dos movimentos de mulheres e feminista. Se, somado ao fato de ser mulher, a pessoa colocar entre os seus propósitos ser dirigente ou candidata a cargo eletivo, o desafio se multiplica numa equação bem mais complexa.
As organizações de esquerda colocam-se em posição de destaque no panteão das lutas sociais como aquelas emblemáticas na busca pela emancipação da classe trabalhadora. Na medida em que se compreenda classe numa perspectiva marxista, tem-se um segmento da sociedade formado por homens e mulheres. Ao se aprofundar a caracterização desses homens e mulheres, vão ser encontradas pessoas de diferentes idades, religiões, orientação sexual, formação, gostos, habilidades e, se aqui coubesse, uma imensa variedade de características e/ou identidades.
Tendo-se, assim, a compreensão dessas organizações como legítimas representantes e defensoras dos interesses da classe, logo pode-se pensar que as entidades que a constituem possuem na sua base representantes das características e/ou identidades acima mencionadas, portanto, pelo seu caráter democrático, devem possuir na sua estrutura dirigente representações de todas essas identidades.
Saindo do plano das idealizações e pressuposições para adentrar no mundo real, o que se visualiza são organizações cuja base é marcada pela pluralidade mas cuja cúpula dirigente se constitui, predominantemente, pelo perfil HH, ou seja, homens heterossexuais. Essa constituição pode ser melhor compreendida a partir das teorias do poder e da liderança, das quais Emile Durkheim e Max Weber são formuladores basilares.
Qualquer modalidade de poder, consentido ou violentamente exercido, pressupõe uma representação do grupo e aceitação do líder, seja essa aceitação voluntária ou imposta. Portanto, quer do ponto de vista jurídico ou como fenômeno histórico ou até psicológico, o exercício do poder demanda lutas pela liderança, pela chefia, desde as primeiras sociedades até as mais modernas ou infra-humanas.
A capacidade que um indivíduo possui de influenciar outro fundamenta-se em alguns fatores que constituem as bases de poder, a exemplo da especialização (habilidade técnica), legislação (dispositivos legais), informação (posse de ou acesso a), conexão (rede de influência), punição ou recompensa (capacidade de infligir danos físicos, materiais ou psicológicos) e referência (atributos pessoais). Como no caso presente, está se tratando de uma forma específica de poder, o poder político, mais uma vez, recorre-se a Max Weber o qual enxerga os partidos políticos como sendo, antes de mais nada, organizações de poder político.
Nesse sentido, Max Weber concebe os partidos políticos como agremiações que visam "proporcionar aos dirigentes o poderio no seio de um agrupamento político [o Estado] e aos militantes oportunidades ideais e materiais de realizarem objetivos precisos ou de obterem vantagens pessoais." (1)
Segundo uma tipologia desenvolvida por esse autor, os partidos políticos inserem-se em três categorias.
1.Quanto a sua duração:
a)Partidos duráveis e
b)Partidos efêmeros.
2.Quanto a sua origem:
a)Partidos de patronato;
b)Partidos de classe ou de ideologia.
3.Quanto a sua estrutura:
a)Partidos de estrutura legal;
b)Partidos carismáticos;
c)Partidos tradicionalistas.
Interessa-nos compreender a participação das mulheres em partidos duráveis (existem há cerca de três décadas ou mais), de classe ou de ideologia mas que, ainda assim, atribuem relevância à figura do líder, bem como são organismos de luta política nos quais, por detrás da aparência de democracia interna, prevalece, não raro, o devotamento da militância à figura do chefe ou líder que o dirige ou exerce influência direta na escolha dos dirigentes.
Nesse tipo de cenário, observa-se o predomínio masculino nas posições dirigentes, mesmo que não sejam maioria no conjunto militante. Pesquisa realizada nos pleitos eleitorais (2004, 2006 e 2008) mostra que, embora sejam maioria do eleitorado, as mulheres ainda são minoria nos cargos eletivos (22,05 % de candidatas a vereadoras, 11,38 de candidatas a prefeitas, em todo o Brasil. Base de Dados do TSE http://www.maismulheresnopoderbrasil.com.br/2011_SPM_3Conf_Tabloide_Web.pdf
Também no conjunto de filiados a partidos políticos os índices também são baixos, muitos sequer cumprem a cota de 30% .
(Esse texto é parte de um artigo escrito por mim e por Marisete Andrade)
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